Colorindo as ruas de São Paulo

Grafiteiros se reúnem durante a Virada Cultural e montam uma galeria de arte ao ar livre.

Por Natalia Guimarães


Domingo. O relógio já marcava mais de 16 horas, mas o sol não se incomodava em castigar com raios intensos de calor. Eles pouco se importavam. Óculos, bonés, chapéus, lenços e outros acessórios eram o suficiente para lidar com a temperatura bastante quente. No chão estavam espalhados caixas, pincéis, rolos, sprays e tintas de uma infinidade de cores. Os artistas dominam suas ferramentas e com propriedade fazem do muro da rua Viri uma ilustre galeria de arte.

Esta galeria foi pintada durante a Virada Cultural em São Paulo nos dias 16 e 17 de abril de 2011. Chamada de Pirada Cultural e patrocinada pelo SESC Santana, artistas se uniram para colorir a cidade através do grafite. Com temática psicodélica, grafiteiros como Binho Martins, Dninja, Feik, Minhau, Nick Alive, Thiago Gomes, Tikka e OZI deram vida ao muro, até então branco, com várias referências pop da década de 70.

O grafiteiro OZI é um dos precursores do grafite no Brasil e atua desde 1985. Para ele é sempre uma honra fazer parte dos que deixam a cidade mais viva através da arte. “Participar da Pirada Cultural é muito gratificante, principalmente quando se tem uma instituição e artistas que estão comprometidos com o que fazem. Aqui é tudo muito bem organizado”, afirma OZI. O muro é pintado em parceria e apesar de cada artista ter seu espaço, as ilustrações se completam. “É uma mistura de tudo! Minha referência dos anos 70 são os cubos mágicos, por isso escolhi pintá-los aqui.”

Os artistas que participaram da Pirada Cultural fazem parte do QAZ Street Art. Criado no início de 2008 o QAZ é um projeto que reúne diversos artistas e tem o objetivo de divulgar trabalhos dos jovens artistas plásticos que têm suas produções relacionadas com grafite e street art. Jordons Francisco, idealizador do projeto, afirmou que o SESC Santana se dedica especialmente ao grafite há algum tempo e que o convite aos artistas do QAZ é devido a competência de cada um. “Eles trabalham em harmonia. O que faz do trabalho uma painel singular”, conta Jordons.

Na cidade: pichação ou grafite? – O grafite é admirado como arte por alguns, mas visto como infração por outros. No dia 26 de maio de 2011 a presidenta Dilma Rousseff sancinou a lei diferencia grafite de pichação. Antes, ambos eram considerados infrações com pena de detenção de três meses a um ano. O novo texto apresenta que o grafite não é crime quando tem o objetivo de valorizar o patrimônio público ou privado mediante manifestação artística. Este trabalho deve ser consentido pelo proprietário no caso do patrimônio privado e deve ser autorizado pelo órgão competente, no caso de patrimônio público.

O grafite já é marca registrada da urbanidade da cidade de São Paulo e embora os grafiteiros não se importarem muito com a lei, a seguinte questão é levantada: quem irá julgar e fiscalizar o grafite como crime ou manifestação artística em uma cidade tão grande como a capital paulista? Essa é uma questão que não ficou clara no texto que apresenta a nova lei.

A lei também proíbe a comercialização de tinta spray para menores de 18 anos, e os maiores de idade só poderão comprar o produto mediante apresentação de documento de identidade. As embalagens dos sprays devem conter as seguintes mensagens: “Pichação é crime (Art. 65 da Lei nº 9.605/98) e Proibida a venda a menores de 18 anos.”

A educadora Olinta Flora concorda com a medida sobre a venda de sprays e afirma que os menores que grafitam devem estar ligados a alguma instituição, como é caso da Organização Eremim e do arte-educador Dingos, responsável pelos “pequenos” grafiteiros. “É imprescindível o acompanhamento integral dos menores durante as atividades, visto que estes ainda não respondem pelos seus atos”, explica Olinta.

O grafite é um gênero das artes visuais que tem conquistado o seu espaço não somente como arte de rua, mas também em importantes galerias e museus. Diante deste crescimento será possível que leis consigam determinar o que é ou não arte? A expressão artística fala por si só através de cores, imagens e sensações.

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