A eternidade dos Beatles

Da beatlemania, nos anos 60, aos dias atuais, a perenidade da música dos Beatles é garantida pelo prazer de ouvir e tocar os hits mais emblemáticos do século 20.

Por Alessandra Formiga

Foto: EMI London
The Beatles – a maior banda de rock de todos os tempos - não tiveram o que poderíamos chamar de uma longa carreira. Também não foram geniais guitarristas em suas primeiras composições. Mas, do ponto de vista cultural, com a revolução na música e nas letras, o legado que eles deixaram é inestimável. Quando cantaram I Want to Hold Your Hand para uma juventude sedenta por mudanças, em resposta, os jovens deram não apenas as mãos, mas o corpo e a alma para os rapazes de Liverpool. Como resultado, a música pop mundial, depois de canções como Yesterday, Hey Jude, Eleanor Rigby e tantas outras, nunca mais foi a mesma. Aliás, o legado que os Beatles deixaram excedeu à música maravilhosa que eles criaram. Os cabelos da rapaziada chegaram aos ombros e, depois, ficaram curtos novamente. As roupas passaram a ter mais cores. Em todas as fases dos Beatles, dos ternos moderninhos ao estilo colorido do psicodelismo, eles ditaram a moda e influenciaram o comportamento de várias gerações no mundo inteiro.

Foto: UPI
No entanto, a grande influência que os Beatles exerceram foi mesmo na música. Antes deles, os “conjuntos” que surgiram em garagens apenas reproduziam o som de grupos instrumentais americanos. Durante as apresentações, a performance das guitarras solos em hits como Blue Star, Caravan, Apache e outros imortalizados por grupos como The Ventures ou The Shadows era suficiente para impressionar a platéia. Até que os Beatles aparecerem gritando yeah! yeah! yeah!, cuja tradução no Brasil – iê, iê, iê – foi a melhor denominação do rock nacional no início da década de 60. Pronto! Estava lançada a beatlemania, outra expressão saída dos fornos culturais brasileiros, que dava nome ao fenômeno inglês no país.

A precisão vocal dos duetos criados por Lennon/McCartney encantou os “conjuntos”, que tinham apenas guitarra solo, base, baixo e bateria, ao ponto de incluírem mais um item: o microfone. A partir daí tudo seria diferente! O desafio agora não era fazer o melhor solo, mas cantar igual aos Beatles.

Desde então, as bandas de rock surgiram com novos estilos sem, contudo, negarem o impacto que o quarteto inglês causou nas suas carreiras.

A perenidade dos Beatles foi reafirmada recentemente por Paul McCartney que, aos 68 anos, numa turnê mundial, emocionou diferentes gerações e levou multidões aos estádios.

Bandas Cover dos Beatles – o legado que se mantém vivo

Fonte: Prefeitura de São Paulo
Os Beatles criaram muitas manias: cabelos compridos, roupas extravagantes, um jeito libertário de ser e mais: colocaram letras nas contracapas dos discos, inventaram o vídeo clipe, introduziram instrumentos exóticos e estranhos à música pop (como cítaras e violinos) e, acima de tudo, deixaram um tipo de música que, dizem, é eterna. Ao considerar o ano em que algumas canções foram criadas e o frisson que elas ainda despertam, fica difícil contestar essa afirmação. Isso chama a atenção para algo que surgiu junto com a beatlemania: o prazer de tocar as músicas dos Beatles, revivido pelas bandas cover. Dentre as muitas que surgiram, fizeram sucesso e desapareceram, uma resiste ao tempo com competência e talento: Beatles 4Ever. O quarteto, mais do que apenas interpretar as canções, conta a trajetória do grupo inglês durante as apresentações. Celso Anieri e Marcus Rampazzo, criadores dos Beatles 4Ever em 1976, passaram cerca de quatro anos formatando o espetáculo com pesquisas, ensaios, produção de cenários e figurinos para, finalmente, estrear no teatro Procópio Ferreira em São Paulo. Desde a estréia, em 1980, eles já se apresentaram em todos os estados brasileiros ultrapassando a marca de 6000 shows, incluindo a temporada de quase oito anos no Teatro Crowne Plaza.

A arte de reviver épocas

As apresentações começam com a fase da "beatlemania", quando os Beatles usavam elegantes ternos e um corte de cabelo revolucionário para a época. A história passa pela fase psicodélica onde fizeram álbuns que são referência musical até hoje como, por exemplo, Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, que completou 40 anos em 2007 e é considerado o melhor álbum da história do rock, segundo a revista Rolling Stones. A seguir, a fase final do quarteto, prestes a se separar, porém sem deixar de compor canções inesquecíveis. O espetáculo é marcado pela fidelidade com que os integrantes apresentam a história dos Beatles. Todas as roupas e adereços são réplicas fiéis dos figurinos usados pelos Beatles. Eles usam também as mesmas marcas de guitarras dos Fab Four. “Nós procuramos parecer o máximo possível com os Beatles, não apenas na aparência, como nos arranjos, e nos próprios instrumentos”, explica o guitarrista Marcus Rampazzo.

Fonte: Prefeitura de São paulo
Na Virada Cultural 2011, milhares de pessoas vibraram com o espetáculo da banda. Os Beatles 4Ever apresentaram o projeto chamado “The Beatles Complete Works” que consistia em tocar todos os álbuns dos Beatles, em ordem cronológica, durante as 24 horas do evento. “Nenhuma banda havia se apresentado durante tantas horas na Virada Cultural, com um palco exclusivo, e ficamos muito felizes porque o Boulevard São João estava lotado o tempo todo, com as pessoas cantando e torcendo por nós”, disse Fábio Colombini, um dos integrantes do grupo.


Fonte: Prefeitura de São Paulo
Os talentos de Ricardo Júnior (Paul McCartney), Marcus Rampazzo (George Harrison), Fabio Colombini (John Lennon) e Ricardo Felício (Ringo Starr) garantiram o sucesso de público. O show foi o mais visto na sétima edição do evento. “Eu adoro ouvir a música dos Beatles! Uma pena não ter vivido naquela época porque deve ter sido sensacional”, diz Ana Gabriela da Silva, 18 anos, estudante. “Eu curto heavy metal, mas acabei gostando dos Beatles por influência do meu pai, um beatlemaníaco”, declara Artur de Almeida Campos, 25 anos, auxiliar técnico de educação, provando mais uma vez a eternidade dos Fab Four.

Se o público gostou do que viu e ouviu na apresentação da Virada Cultural, os integrantes da banda também curtiram a saga musical. “Muitas pessoas ficaram lá com a gente durante 24 horas! Em muitos momentos também nos emocionamos com o público. Foi um show inesquecível”, finaliza Ricardo Júnior, o Paul McCartney.

Tocadores de Trilhas na Virada Cultural

Por Claudia Chagas

Imagine um filme sem trilha sonora... você conseguiria assistir algo assim? Sem detectar a emoção em cada cena, a ausência daqueles pequenos ritmos que mostram que estamos vendo algo decisivo para enredo da produção. Faça o teste, pegue seu filme favorito, retire a trilha sonora e assista com apenas as falas dos personagens e sons externos; aposto que você passará a odiá-lo mais rápido do que decidiu que ele era seu favorito.
The Soundtrackers em foto oficial

Em 2011 a Virada Cultural apresentou “The Soundtrackers” em uma das variadas programações do SESC Vila Mariana, Zona Sul de São Paulo, o grupo tem em seu repertório músicas trilhas sonoras de filmes. “Sempre gostei de montar bandas temáticas e, como adoro cinema, achei que seria bacana criar um repertório em cima de trilhas de filmes”, conta Rodrigo Rodrigues, pai da ideia e um dos guitarristas do grupo. “Há tempos vinhas querendo voltar a tocar e fazer alguma atividade além da TV. Com os Soundtrackers matei dois coelhos com uma caixa d’água só”, brinca o apresentador da ESPN.

E o grupo fez sucesso, logo no dia da distribuição dos ingressos pessoas ficavam ansiosas e rezando para que os ingressos fossem suficientes para todos, pouco antes da abertura do anfiteatro o público foi encantado pelo show de um mágico que além de simpático era muito competente e colocou todos em extrema aflição a partir do momento em que desapareceu com uma nota de cinquenta reais de um colega, mas acalme-se ele fez a nota aparecer depois de muito tempo.

Finalmente as portas do anfiteatro foram abertas e todos entraram já animados, o palco nem tão grande quanto sonhávamos estava bem perto do alcance e um telão era toda a iluminação no ambiente, mas as pessoas não notaram nada disso; apenas a ansiedade as dominava. Daí as luzes se apagaram e o show começou.
Performance no SESC Vila Mariana

Dividindo o palco com vozes maravilhosas, instrumentos afinadíssimos e imagens de cada filme The Soundtrackers iniciou seu show cantando um dos hits do filme “Caça-fantasmas” seguido por “Footloose” ,“De volta para o futuro”, “Grease”, filmes de Elvis, Beatles. O figurino de cada um nos levava a um grande sucesso do cinema, que sempre nos evocava uma lembrança marcante.

“A vantagem é que o repertório não tem fim, vamos sempre estar de olho nas músicas que fazem sucesso na telona. Exemplo de uma mais recente é School of Rock, tema de Escola do Rock, do impagável Jack Black”, finaliza o jornalista. 

O grupo é formado por Rodrigo Rodrigues, Fábio Nogueira, Danilo Barbalaco, Eron Guarnieri, Fábio Effori, Luis Capano e Paula Marchesini, um conjunto para cinéfilo nenhum botar defeito.

Cultura além da Virada

Por Dhaianny Vieira

Sé, um dos palcos para músicos anônimos
Sob os aplausos do público nos movimentados corredores do metrô de São Paulo é possível ouvir a doce música de um piano a tocar. Anônimos, profissionais, qualquer que seja o usuário, leigo ou não, na arte de tocar, também pode se aventurar entre as teclas de um piano e isso graças ao projeto Piano no Metrô, uma parceria do Projeto Encontros com a empresa Cinemagia, que disponibiliza quatro pianos nas linhas azul, verde, vermelha e lilás do metrô. O projeto é realizado com o intuito de aproximar o usuário do metrô com a arte.

Com a delicadeza de um bom artista e a precisão de um profissional o chofer de limusine João Carlos Monroe, aos 56 anos encanta os passageiros na estação Sé com sua boa música. Com curiosa história de vida, ele conta como foi resgatado pela arte; após a separação e um grande transtorno familiar João Carlos tentou o suicídio e encontrou escape para seus problemas na música.

Em seu velho piano que recebeu como pagamento de uma dívida, em meio a tanta dor e amarguras conseguiu tirar poucas notas da música de sua vida Como é grande o meu amor por você do cantor Roberto Carlos mesmo sem conhecimento algum do instrumento. “Posso ser pianista ao invés de suicida”, comenta.

A proximidade do usuário com a arte ajuda a aliviar o estresse do dia a dia dos paulistanos além de proporcionar novas descobertas artísticas. “Se anteriormente eu tivesse uma oportunidade como essa teria me atentado logo ao meu dom”, afirma o pianista amador.

O projeto continua divulgando e incentivando a música dentro de cada um, presente nas principais estações de metrô, de segunda a sexta. É só chegar, sentar ao piano e começar a tocar. Não perca essa oportunidade.

João Carlos, do escuro suicídio a luz da música

O curioso encontro de Sepultura e a Orquestra Experimental

Orquestra Experimental de Repertório de São Paulo foi convidada a participar dessa grande festa da cultura brasileira, mas um encontro mais do que inusitado.

Por Dhandhara Campos

Como todos os anos a virada cultural vem com novas atrações. Esse ano dentre os inúmeros show simultâneos, houve um encontro histórico.

Abertura do tão esperado show
Sepultura com a Orquestra Experimental de são Paulo, no Palco Luz bem ao lado do Parque da Luz e da Pinacoteca do Estado. Esse show foi feito em prol do Pau Brasil, arvore que está em extinção, e o dinheiro arrecadado irá para o plantio dessas tão lindas árvores, que dão o nome para o nosso país. De primeira vista um show que poderia ser horrível, mas ele chamou até pessoas que não gostam do estilo, pela irreverência do acontecimento. Solos de guitarras permeados com sons leves dos
violinos.

A primeira música começou com a Orquestra, quando Sepultura entrou no palco o público foi à loucura, metaleiros pulavam e gritavam, juntaram os clássicos eruditos com músicas da própria banda. Para quem não conhece o estilo teria muito medo do evento.

Gabriel Campos de 20 anos foi ao evento e quando questionado sobre o que aquele show significava para ele, a resposta foi simples “Como amo metal, para mim foi uma mistura de gêneros fantástica, nunca imaginei assistir um show tão diferente na minha vida.”

Vista do público. À esquerda, a estação.
Mas quem está imaginando apenas um bando de metaleiros “batendo cabeça” estão enganados, tinham muitas pessoas que nem gostavam do estilo, estavam lá apenas por que queria conhecer a fusão de dois estilos completamente diferentes ou apenas

O ponto alto do show foi quando Andreas Kisser solou a nona sinfonia de Beethoven, A platéia foi à loucura. A mistura de gêneros foi tão bem feita, que todos vibravam a cada acorde que tocavam.

Como Bruna Amorim de 21 anos, que não gosta do estilo, mas prestigiou o evento “Eu vim com minha namorada para ver o show dos Misfits, mas enquanto ele não começa assisti esse do Sepultura e posso dizer que me surpreendi, eu não gosto muito do estilo, mas com certeza me arrepiei com os solos.”
Após alguns minutos de show, ninguém ficou cansado dos pulos e gritarias, tudo isso continuou até o final do dia evento, cantaram músicas antigas e novas todas com o acompanhamento sinfônico.

O que aconteceu com Bruna Amorim de ficar esperando outro show foi super normal naquela noite, onde milhares de pessoas passaram pelo Palco Luz apenas esperando o próximo show e ficaram maravilhados com o que viram.

Bem ali próximo no Parque da Luz, podíamos ver um ambiente completamente diferente do palco, músicas de coreto para dançar com o rostinho colado como antigamente.

Bem perto desse mesmo lugar pudemos ver até uma improvisação acontecendo, como sabemos a virada cultural é um evento poli cultural, onde temos o prazer de conviver com essa cultura linda do brasileiro.

Cultura brasileira entre as quatro linhas

O mais importante esporte do Brasil tem sua história contada gratuitamente durante evento público.

Por Elis Faber

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Chegou a hora de um dos maiores eventos públicos de São Paulo. A Virada Cultural aconteceu no último fim de semana, das 18h00 do dia 16 até as 18h00 do dia 17/04. Foram 24 horas de muitos shows e diversas apresentações. Neste ano, contou também com a participação do Museu do Futebol, que já faz parte do circuito do evento desde 2009. Segundo o coordenador do Núcleo de Eventos do Museu, Renato Baldin, “Este é o terceiro ano que o Museu faz parte da Virada Cultural e nós realmente achamos isso importante. Se a intenção do evento é trazer um pouco da cultura do país às pessoas, nada melhor do que ter um espaço que conte sobre o futebol. Gostem ou não, o povo tem que saber a importância desse esporte para a cultura e para história do Brasil.”

Construído nos avessos, ou seja, sob as arquibancadas do estádio do Pacaembu, e inaugurado em 29 de setembro de 2008, o Museu do Futebol possui 15 diferentes salas que proporcionam ao público uma vivencia e um aprendizado mais próximo do futebol. Entre homenagens e outras partes da história, temos salas como a Osmar Santos; a Pelé e Garrincha; a das Origens; a do Rádio; a dos Gols; a das Copas; a sala Exaltação, na qual é possível experimentar a vibração dos gritos e da comemoração da torcida no coração das arquibancadas; e há também o Auditório Armando Nogueira, com 180 lugares para sessões de cinema e palestras.


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Não houve nenhuma exposição especial para o dia da Virada. As modificações foram apenas no horário de funcionamento, que foi estendido até as 22h00 com entrada gratuita a partir das 18h00. Mas no mesmo dia, sábado, a partir das 11h da manhã, aconteceu o 3º Encontro de Colecionadores de Camisas, com a intenção de reunir tanto colecionadores quanto curiosos que queiram conhecer mais sobre esta mania de alguns torcedores. “O encontro de colecionadores vem se consolidando a cada edição, com a participação não só dos paulistanos, mas também de torcedores de outras cidades e Estados. O evento é uma ótima oportunidade para aumentar a interação entre eles”, avalia Renato Baldin.

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A tecnologia presente em algumas das salas somada as fotos e gravações que estão dispostas em todo o Museu, permitem aos visitantes um tour mágico pelos fatos mais importantes do futebol brasileiro e mundial. Recria de forma descontraída e atualizada, tanto com as peças do acervo quanto nas exposições móveis, a evolução de um esporte que se tornou parte essencial da história de um país. O Museu é totalmente acessível, mas a Virada Cultural permitiu uma interação maior, muito mais ampla, na qual todos os tipos de pessoas puderam aprender e se divertir ao mesmo tempo.

A beleza das peças e fotos expostas é gigante, ao ponto de fazer os visitantes sentir-se ainda menor, pela sua natureza de espectador, torcedor e fã. Bem como a grandeza da Virada, que ainda está longe de ser um evento perfeito, mas que proporciona muita diversão e conhecimento a toda à população. E nada melhor do que a união de coisas boas e produtivas para servir de incentivo, nessa busca por um mundo melhor.

A Trilha das Artes

Por Danilo Moreira

Que tal acompanhá-los? (Foto: Danilo Moreira)

Eis mais uma Virada Cultural. O evento, já presente na rotina dos paulistanos há sete anos, tem recebido cada vez mais destaque na mídia. Mostram-se as principais atrações principalmente no Centro da cidade. A cada ano, recorde de público, sempre aos milhões. Mas agora, esqueça a virada no Centro. Vamos para 24 km ao sul da cidade. Lá, um grupo de pessoas de várias idades é conduzido por dois homens de preto. Um toca uma sanfona. O outro guia os olhos de todos para uma experiência sensorial intensa. Questionam-se: “Afinal, o que é arte? Como contemplar a arte? O que aquela obra quer dizer?” Todos “viajam”, dão vários palpites. A melodia parece criar uma barreira a tudo que acontece em volta. Diante daquela imensidão verde, eles parecem ser os únicos seres existentes.

Num mundo onde as pessoas têm cada vez menos tempo até mesmo para respirarem, parar por alguns minutos em frente a uma obra de arte e fazer um exercício de interpretação estética é uma atividade rara, e mesmo quando é feita, pode trazer alguns equívocos. É justamente para aprimorar essa experiência que o SESC Interlagos, localizado no extremo sul de São Paulo, apresentou nesta 7ª edição da Virada Cultural 2011, a Trilha das Artes. Trata-se de um passeio monitorado por várias obras espalhadas pela unidade.

Para quem não conhece, o Sesc Interlagos é um clube campestre de 500.000 m2, ao lado da represa Billings. Inaugurado em 1975, possui uma das maiores áreas verdes de todas as unidades da capital, tendo inclusive uma reserva da Mata Altântica.

A ideia

Elizabeth Brait é responsável pela programação de teatro, literatura, artes plásticas e visuais. Segundo ela, a ideia da trilha surgiu em 2007 pelas mãos de Andrea Fonseca, que é instrutora do Projeto Curumim (programa que atende crianças de 7 à 12 anos com atividades educativas) e especialista em museologia. “Ela considerou importante fazer uma ação de mediação sobre as obras de arte expostas junto ao público frequentador do SESC Interlagos”. Depois de vários ajustes, foi na Virada 2011 que o projeto finalmente foi posto em prática.

Ao som da sanfona

Era sábado, 16 de abril, 20 horas. No prédio da sede social, entre várias atrações acontecia simultaneamente, dois homens surgem. Sâmu carrega uma sanfona e Márcio exibe um sorriso no rosto, convidando a toda aquela gente para acompanhá-los. Logo formou-se um grupo de cerca de 25 pessoas. Começava ali a Trilha das Artes.

Pátio das Américas (Foto: Danilo Moreira)
“Hoje a gente vai fazer um percurso para abrir a nossa percepção”, anunciava Márcio. Segundo ele, o SESC possui uma coleção de 1200 preciosidades do chamado Acervo SESC de Arte Brasileira, iniciada há cerca de 60 anos atrás. Por ser grande a quantidade de obras no Interlagos (cerca de 300, segundo Brait), veríamos apenas cinco delas.

“Nu”, de Carlos Leão (1969), foi a primeira obra visitada. O quadro retrata uma mulher na sua intimidade, seminua, e mostra como durante muito tempo, desde a Grécia Antiga, o corpo feminino é um dos temas preferidos dos autores. Através de cada palavra pronunciada, os rapazes conduziam às pessoas ao processo de contemplação de cada detalhe, dando um tempo para que a imagem pudesse se comunicar com os olhos de todos. Minutos depois, várias pessoas já falavam o que haviam entendido dela. O momento é temperado com um poema de Vinícius de Moraes, chamado “Soneto da Mulher ao Sol”. Tudo para mostrar aos participantes como as diversas formas de arte podem dialogar entre si.

Dali, a Trilha seguiu para fora do prédio. Márcio distribuiu algumas lanternas para as crianças, adiantando que em certo momento do caminho, elas seriam essenciais. Na grama, passamos pelo “Pátio das Américas” (2005), obra em espiral feita em granito por Denise Millan e Ary Perez, e outra produção dos mesmos autores, cujo nome não foi dito, mas é um grande tronco amarrado a cordas de bronze. Em ambas, a interpretação dependia do contato físico.

Descemos algumas escadas. A sanfona de Sâmu ia na frente e abria caminho entre as pessoas que estavam ali. Quem via o nosso grupo (que muitas vezes parecia realmente estar em transe) se calava, e passava a nos observar. De certa forma, também nos tornamos uma obra de arte daquela Virada. Foi mostrado a nós uma pedra esculpida e de onde corria água. Aqui o desafio da interpretação da arte foi bem maior, por ser um local de muito barulho (era perto da arena, local dos shows que aconteceriam no dia). Márcio algumas vezes teve que gritar para o ouvissem. Não conseguimos nem mesmo identificar o autor da obra.

A partir daqui, a Trilha das Artes tomou uma direção mais profunda. Para ver a última obra, o grupo teve que andar bastante por um longo caminho de paralelepípedos. Aos poucos, o prédio da sede social e as outras atrações da Virada ficaram para trás. O silêncio da noite e os grilos passam a tomar conta do cenário, ainda sob o som da sanfona de Sâmu.

Arte também é engajamento ambiental. (Foto Danilo Moreira)
Chegamos enfim a um local escuro, ao lado da quadra de basquete do SESC. O som que cintilava em nossos ouvidos agora era uma flauta. Descemos sob a luz das lanternas que as crianças carregavam. Era também uma instalação. Troncos secos de árvores brotavam de pedras, e formavam um formato circular. Fomos convidados a entrar dentro dela. Mais uma vez, várias interpretações. Mas dessa vez, realmente tínhamos embarcado em um exercício de introspecção que era quase hipnótica. Nem as teias de aranha atrapalharam a essência do momento. Márcio explicou que ela fora colocada estrategicamente ali, pois, do lado, há a reserva da Mata Atlântica. E ela tinha sido construída por Siron Franco e as crianças do Projeto Curumim. Tratava-se de um alerta para a preservação do meio ambiente, além de mostrar que qualquer pessoa poderia produzir arte.

E por fim, após uma hora e dez minutos de total imersão no mundo das artes, os dois guias se despediram de todos, nos acompanhando de volta à sede social. Cada um que saiu dali teve a certeza de estar mais leve. E eram pessoas simples, boa parte moradoras da região, gente comum do nosso dia a dia. Mas, naquela noite, elas foram capazes de fazer o tempo parar, e passaram a servir exclusivamente à experiência estética proporcionada pelo passeio. Parecíamos ter acordado de um sonho gostoso. Com certeza, pelos sorrisos nos rostos de cada um, aquela trilha realmente seria inesquecível.

Segundo Brait, as cinco obras foram escolhidas com o propósito de informar a quem freqüenta o SESC que, além de toda a estrutura já conhecida (área verde, quadras poliesportivas, piscinas, e outras instalações de entretenimento), existe também atrações de arte importantes mas que não são vistas. Esse contato com as obras internas e externas criam uma sensibilidade no olhar e ampliação estética do indivíduo. “Vai da intimidade do primeiro contato do quadro de Carlos Leão à abertura para o céu de uma Mata Atlântica do Siron. Além disso, valorizam o patrimônio da unidade e o democratiza a todos”, conta a programadora.

Fim da Trilha: olhos renovados.  (Foto: Danilo Moreira)
Mas para quem perdeu a Trilha das Artes, pode ficar tranqüilo. Brait já adiantou que em virtude da boa repercursão, a unidade pretende promover novas edições da itinerância monitorada, até mesmo fora do circuito da Virada Cultural. É só torcer para que logo você também possa fazer parte desse momento tão especial, e ter a oportunidade de explorar o acervo de arte do SESC Interlagos.

Para mais informações, acesse www.sescsp.org.br. O endereço é na avenida Manuel Alves Soares, 1100, Parque Colonial, perto da estação Primavera-Interlagos da CPTM.

Colorindo as ruas de São Paulo

Grafiteiros se reúnem durante a Virada Cultural e montam uma galeria de arte ao ar livre.

Por Natalia Guimarães


Domingo. O relógio já marcava mais de 16 horas, mas o sol não se incomodava em castigar com raios intensos de calor. Eles pouco se importavam. Óculos, bonés, chapéus, lenços e outros acessórios eram o suficiente para lidar com a temperatura bastante quente. No chão estavam espalhados caixas, pincéis, rolos, sprays e tintas de uma infinidade de cores. Os artistas dominam suas ferramentas e com propriedade fazem do muro da rua Viri uma ilustre galeria de arte.

Esta galeria foi pintada durante a Virada Cultural em São Paulo nos dias 16 e 17 de abril de 2011. Chamada de Pirada Cultural e patrocinada pelo SESC Santana, artistas se uniram para colorir a cidade através do grafite. Com temática psicodélica, grafiteiros como Binho Martins, Dninja, Feik, Minhau, Nick Alive, Thiago Gomes, Tikka e OZI deram vida ao muro, até então branco, com várias referências pop da década de 70.

O grafiteiro OZI é um dos precursores do grafite no Brasil e atua desde 1985. Para ele é sempre uma honra fazer parte dos que deixam a cidade mais viva através da arte. “Participar da Pirada Cultural é muito gratificante, principalmente quando se tem uma instituição e artistas que estão comprometidos com o que fazem. Aqui é tudo muito bem organizado”, afirma OZI. O muro é pintado em parceria e apesar de cada artista ter seu espaço, as ilustrações se completam. “É uma mistura de tudo! Minha referência dos anos 70 são os cubos mágicos, por isso escolhi pintá-los aqui.”

Os artistas que participaram da Pirada Cultural fazem parte do QAZ Street Art. Criado no início de 2008 o QAZ é um projeto que reúne diversos artistas e tem o objetivo de divulgar trabalhos dos jovens artistas plásticos que têm suas produções relacionadas com grafite e street art. Jordons Francisco, idealizador do projeto, afirmou que o SESC Santana se dedica especialmente ao grafite há algum tempo e que o convite aos artistas do QAZ é devido a competência de cada um. “Eles trabalham em harmonia. O que faz do trabalho uma painel singular”, conta Jordons.

Na cidade: pichação ou grafite? – O grafite é admirado como arte por alguns, mas visto como infração por outros. No dia 26 de maio de 2011 a presidenta Dilma Rousseff sancinou a lei diferencia grafite de pichação. Antes, ambos eram considerados infrações com pena de detenção de três meses a um ano. O novo texto apresenta que o grafite não é crime quando tem o objetivo de valorizar o patrimônio público ou privado mediante manifestação artística. Este trabalho deve ser consentido pelo proprietário no caso do patrimônio privado e deve ser autorizado pelo órgão competente, no caso de patrimônio público.

O grafite já é marca registrada da urbanidade da cidade de São Paulo e embora os grafiteiros não se importarem muito com a lei, a seguinte questão é levantada: quem irá julgar e fiscalizar o grafite como crime ou manifestação artística em uma cidade tão grande como a capital paulista? Essa é uma questão que não ficou clara no texto que apresenta a nova lei.

A lei também proíbe a comercialização de tinta spray para menores de 18 anos, e os maiores de idade só poderão comprar o produto mediante apresentação de documento de identidade. As embalagens dos sprays devem conter as seguintes mensagens: “Pichação é crime (Art. 65 da Lei nº 9.605/98) e Proibida a venda a menores de 18 anos.”

A educadora Olinta Flora concorda com a medida sobre a venda de sprays e afirma que os menores que grafitam devem estar ligados a alguma instituição, como é caso da Organização Eremim e do arte-educador Dingos, responsável pelos “pequenos” grafiteiros. “É imprescindível o acompanhamento integral dos menores durante as atividades, visto que estes ainda não respondem pelos seus atos”, explica Olinta.

O grafite é um gênero das artes visuais que tem conquistado o seu espaço não somente como arte de rua, mas também em importantes galerias e museus. Diante deste crescimento será possível que leis consigam determinar o que é ou não arte? A expressão artística fala por si só através de cores, imagens e sensações.

Virada para todo mundo ver: 35MM em relevo

Por Márcio Andrade

Exposição da obra na sede social. (Foto: Márcio Andrade)
Quem pensa na Virada Cultural logo traz o centro da maior Metrópole do Brasil à mente. Poucos imaginam como os deficientes se divertem no evento e como podem apreciar certos tipos de arte. Pois é, caro leitor, saiba que a arte não tem esse lindo nome à toa. Afinal, a criatividade é uma virtude muito apreciável. É hoje um evento ímpar para o estado de São Paulo, pois acontece em várias cidades prestigiando e incentivando o público em geral. Este ano ela parece ter inovado ou se tornado muito mais especial. As artes foram todas exploradas nas apresentações como músicas, teatros, comédias, danças, culinárias, pinturas e inclusive apresentações esportivas. Inovadora, pois neste ano teve shows fora da região central, como praças, centro culturais e de lazer. Isso trouxe um resultado positivo. Os visitantes do SESC Interlagos que fica na região do extremo sul da capital de São Paulo relatam um pouco sobre tal experiência.

“Vou te falar a verdade, desde 2009 que vou à Virada Cultural e esse ano as atrações do centro não me chamaram muito a atenção, como eu tinha que trabalhar hoje pensei em vir pro SESC que é mais perto de casa e tudo, imaginava ter visto, quando noticia alguma coisa é sempre lá no centro e o foco não fica tanto no SESC, Casa das Rosas e outras instituições, aí comecei a olhar melhor a estrutura lá no site e decidi vir pra cá e fiquei muito surpresa porque é completamente diferente, bem família mesmo, parecida com festa de interior, gostei muito mesmo, principalmente da exposição 35mm em Relevo porque pensou até em quem tem deficiência visual”, diz Ângela Maria da Silva, moradora do Jardim Gaivotas que visitava o SESC Interlagos com os filhos Gabriela de 11 anos e Nicolas de 7 anos.

Esta exposição citada pela visitante Ângela aconteceu na sede social do local. São obras que propõe um olhar diferenciado sobre as cenas clássicas de filmes brasileiros. Privilegia o público com necessidades especiais embora não seja voltado para eles, apresentando uma série de 15 imagens produzidas em relevo. Usa linguagem simples, clara e direta para transmitir o conteúdo expositivo e estimular a percepção de formas inusitadas pelo o tato. O Professor Alfonso Ballesteiro é o autor das obras, recebeu o Grande Prêmio Olho Latino, no dia 14 de maio, após ter participado da 5ª Bienal Nacional de Gravura, na cidade de Atibaia, interior de São Paulo.

Mãe amamenta o filho herói Macunaíma, cena do filme inspirado no livro. (Foto: Márcio Andrade)
“Na verdade 35mm tem todo um histórico, ela foi pensada em primeiro lugar para o SESC Ipiranga como uma parceria com a Terra Vista uma exposição com cenas do cinema brasileiro para deficientes visuais, por isso que as telas são em alto relevo, só que depois ela foi para o cine SESC e agora ela veio para Interlagos, a idéia era casar essa exposição 35mm com o Festival Melhores Filmes que ocorre em abril também, mas aí agente acabou inaugurando na virada”, diz Vanderlei Mastropaulo que é um dos responsáveis pela programação do SESC Interlagos na Virada.

Quem não conhece tanto o cinema brasileiro fica curioso com os filmes como Macunaíma, Dona Flor e Seus Dois Maridos, Vidas Secas entre outros, as sinopses também estão em braile. Alguns artistas são conhecidos graças à televisão como as atrizes Maitê Proença e Marília Pêra. Você pode tocar as obras e sentir a face e os acessórios dos personagens. Pode ficar fascinado pelos detalhes esculpidos como cabelos e objetos muito pequenos. É só fechar os olhos para ver. Pode parecer até irônico, mas é assim que você consegue perceber melhor a intenção desta obra. Nem sempre a visão, que muitas vezes nos engana, deve ser colocada em primeiro plano. É preciso usufruir de todos os sentidos para desfrutar melhor as coisas da vida.

Virada Cultural traz a São Paulo 24 horas de apresentações gratuitas

Em sua 7ª edição, a Virada Cultural abre as portas do Museu da Língua Portuguesa aos paulistanos.

Por Sandra Nascimento

Foto: Divulgação

De 16 a 17 de abril, chega a São Paulo a 7ª edição da Virada Cultural, com início às 18 horas do sábado. São 24 horas de apresentações ininterruptas espalhadas em vários palcos da cidade, em especial no centro de São Paulo. O evento é uma realização da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo em parceria com o SESC e a Secretaria de Estado da Cultura, e adesão das mais importantes instituições culturais da cidade.

Grande parte dos palcos foi distribuída nas ruas e praças famosas do Centro da capital paulista. Outras apresentações ocorrem em sedes do Sesc (correalizador do evento, ao lado da Secretaria de Estado da Cultura), nos Centros Educacionais Unificados (CEUs), além da participação de artistas de rua e intervenções em shoppings, metrôs, museus e bibliotecas. Foram mais de 950 apresentações em 121 espaços.

Com entrada gratuita, o Museu da Língua Portuguesa participa ativamente deste evento da cidade de São Paulo desde sua inauguração em 2006. E este ano não foi difetente, o Núcleo Educativo do museu realizou divertidas e instrutivas atividades com os visitantes dentro das áreas expositivas do museu que recebeu mais de 6 mil pessoas durante a Virada Cultural. Já passaram por lá exposições temporárias de Clarice Lispector, Guimarães Rosa, Cora Coralina, Fernando Pessoas entre outros grandes artistas.

Localizado no prédio da Estação da Luz, o edifício do Museu tem 3 andares que abrigam a história e a dinâmica da língua portuguesa. O primeiro andar é destinado às exposições temporárias, a administração e o setor educativo do museu, e ainda dispõe de uma sala de aula para 50 pessoas e um espaço digital que pode atender até 20 pessoas.

O segundo andar possui um grande telão com projeções simultâneas de filmes que retratam a Língua Portuguesa no cotidiano e na história de seus usuários, uma linha do tempo que nos mostra as influências que sofreram nossa Língua, uma sala com um jogo que permite brincar com a formação e criação das palavras, bem como suas origens e significados.

Telão de projeções localizado no segundo andar do museu
Especialmente durante a Virada Cultural, em uma das paredes do saguão do segundo andar, os visitantes deixavam registradas ali, suas palavras preferidas, o que despertou o interesse de jovens, crianças e adultos que se revezavam para registrar a palavra de sua escolha. Embora a grande maioria das palavras fosse escrita em português, havia também palavras em outros idiomas, tais como francês, inglês, italiano, espanhol, grego e até japonês. Uma grande homenagem à nossa diversidade.

A parede destinada ao registro das palavras dos visitantes

O terceiro andar ainda conta com um auditório de projeção que exibe um pequeno filme, com duração de 10 minutos sobre as origens da Língua Portuguesa falada no Brasil, e a Praça da Língua, muito semelhante a um planetário. Mas este ao invés de estrelas, é composto por imagens projetas em seu interior e áudio, que, aliás, é bastante interessante e vale à pena ser visto. Exposições como essas, aproximam o didadão de seu idioma, e permite que haja uma valorização da diversidade da cultura brasileira, por isso é importante lembrar que realizações como essa, somente se faz possível mediante a colaboração dos órgãos públicos envolvidos, Secretarias de Serviços e de Coordenação das Subprefeituras, Polícia Militar, Guarda e Polícia Civil, entre outros.

O Museu da Língua Portuguesa é completamente dedicado à valorização e difusão do nosso idioma, apresentado de uma forma expositiva diferenciada das demais instituições museológicas do país e do mundo. É hoje, um dos museus mais visitados do Brasil e da América do Sul. Você já foi visitá-lo?

Riso no Vale do Anhangabaú

Shows de Stand-up espalham alegria na Virada Cultural.


Por Lauany Rosa

O Stand-up Comedy nasceu nos Estados Unidos no final do século dezenove. No início, a maioria dos comediantes eram vistos como contadores de piadas. Eles aqueciam a platéia e entretinham o público durante os intervalos de peças teatrais. A apresentação tinha como característica a improvisação e a discussão de qualquer assunto que podia ser desde os últimos filmes em cartaz, até uma discussão familiar. Com o tempo, esses humoristas ganharam fama e começaram a fazer bastante sucesso. As pessoas iam aos clubes e teatros, apenas para ver as aberturas cômicas. Esses humoristas montaram seu próprio show e começaram a se apresentar em todo o país.

No Brasil, o gênero começou em 2004, com o Clube de Comédia em Pé. O clube foi formado por vários humoristas que já realizavam shows de humor no formato Stand-up. Em 2008 a televisão começou a apostar no Stand-up Comedy. E programas como CQC (Custe o que Custar); Domingão do Faustão; Programa do Jô (quadro Humor na Caneca); e programas de improviso começaram a importar humoristas do Stand-up para televisão e apresentaram essa nova tendência a todo o Brasil.

Acompanhando toda essa febre de Stand-up Comedy, a Virada Cultural deste ano trouxe 24 horas de Comédia Stand –up ao Viaduto do Chá que fica no Vale do Anhangabaú. O evento conseguiu reunir milhares pessoas. A 5ª edição da Virada Cultural Paulista foi promovida pela Secretaria de Cultura do Estado e aconteceu simultaneamente em 22 cidades, além da capital nos dias 14 e 15 de maio.

Durante os dois dias de Virada Cultural, o palco do Stand-up, no Vale do Anhangabaú foi o mais visitado. Em torno de 50 mil pessoas passaram pelo local durante as diversas apresentações. O evento conseguiu reunir shows dos maiores humoristas do Stand-up nacional em um mesmo palco. Misturando nomes conhecidíssimos como Danilo Gentili, Marcelo Mansfield e Fábio Porchat com jovens talentos que ainda não apareceram muito na televisão, o palco foi um grande sucesso.

Danilo Gentili integrante do programa CQC foi um dos humoristas que mais atraiu público. Também se apresentaram nesses dois dias: Leo Lins, Márcio Ribeiro, Murilo Couto, Maurício Meireles, Murilo Gun, Fábio Lins, Marlei Cevada, Rogério Morgado, Marco Zenni, Marcos Castro, Marcos Veras, Hélio Barbosa, Rudi Landucci, Patrick Maia, Fábio Gueré, Mehl Merer, Victor Sarro, Ênio Vivona, Fabio Porchat, Robson Nunes, Renato Tortorelli, Cris Paiva, Fábio Silvestre, Paulo Carvalho, Luís França, Rodrigo Cáceres, Alisson Diniz & Marcão Freire, Fabiano Cambota, Marcelo Marron, o grupo Comida dos Astros e Fábio Rabin.

Foto: Divulgação
A distância entre o palco e as pessoas deixava os artistas um pouco removidos do clima de bagunça, mas era próxima o bastante para ocorrer a troca de energias. As apresentações tiveram um clima muito diferente do qual os comediantes estão acostumados, se apresentando em teatros, bares e casa de espetáculos. Além de numerosas, as pessoas pareciam agitadas e empolgadas, recebendo todos os artistas com gritos e palmas, rindo de tudo que era dito e até aplaudindo piadas com fervor. Este comportamento não se alterou ao longo da noite, as impressões foram as melhores possíveis. Alguns humoristas não conseguiram esconder o êxtase e se expressaram das mais diversas formas pelo twitter e durante as apresentações.

O primeiro show que aconteceu às 20h, contou com Danilo Gentili e, consequentemente, com o maior público. Em declaração sobre a Virada Cultural, Gentili reconheceu que o sucesso se deu, na verdade, não por causa de um ou outro, mas porque os comediantes brasileiros acreditaram que se podia fazer stand-up comedy na rua, como ocorreu. Após Danilo Gentili, muitos outros comediantes se apresentaram.

Durante toda a madrugada e manhã, os shows de Stand-up continuaram a atrair gente e a manter o bom humor. A tarde de domingo trouxe de volta muitos comediantes que já haviam se apresentado durante a Virada. Mas isso não foi um problema, pois havia alta rotatividade de público. O último a se apresentar foi Fábio Rabin, que foi terminou seu show após as 18h30.

Pela primeira vez, cultura periférica tem espaço na Virada Cultural


 Por Raquel Freire


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No Sarau do Binho, Gunnar Vargas apresenta Circo Incandescente com temas políticos, sociais e culturais expressos em poesias e músicas.

“Zona Sul, Leste, Oeste e Norte, cheguem, venham ouvir uma música nacional de qualidade”. Com esta frase, Gunnar Vargas e sua banda entra no palco da Santa Ifigênia. Pela primeira vez, artistas do circuito periférico de São Paulo participam da Virada Cultural. Com saraus de poesias, músicas e danças, a banda, que se apresentou às 0h, no dia 17 de abril, mostrou uma nova forma de produção, acesso e difusão de arte, já que no sarau, o artista é o próprio povo.

Antes do grupo se apresentar, havia uma roda de pessoas. No centro, um grupo de garotos dançavam ao som de uma música cantada por eles e também pelo público. Após isso, era a vez dos poetas. Cada um entrava na roda e começava a declamar suas poesias.

O público era variado, de crianças a idosos, vindos de diversas regiões da cidade, todos muito animados. Eles dançavam, cantavam e aplaudiam concordando com as letras do grupo. “A gente se encontra aqui. Essa é a nossa realidade, vivemos isso”, explica Carol Siqueira, estudante do Ensino Médio que assistia a apresentação.

Segundo Gunnar Vargas, cantor e compositor, que lançou recentemente o álbum Circo Incandescente, o palco Cultura Periférica foi talvez uma das opções mais autênticas da diversidade de programações apresentadas na Virada Cultural 2011. “Este palco trouxe músicos, poetas, artistas plásticos das mais variadas áreas, saraus e festivais, o que expressa a realidade de cada povo, a maneira como nós vivemos”, pondera.

Circo Incandescente

O título do CD é o mesmo da apresentação do Saru do Binho, que dialoga com a cultura paulistana periférica, com a música popular brasileira e com o samba de modo especial. Gunnar apresenta uma obra sua e também coletiva, com doze canções. O álbum tem a produção de Luiz Waak e co-produção de Daniel Krotoszynski. A banda conta com arranjos e guitarras de Luiz Waack, bateria de Marco da Costa, baixo de Reinaldo Chulapa, pianos de Fernando Moura, trombones de Bocato, sax tenor e clarinete de Leonardo Muniz Corrêa, trompete de Amilcar Rodrigues, sax soprano de Hugo Hori, percussão de Ricardo Garcia, acordeon de Antônio Bombarda e a participação especial das cantoras Márcia Castro e Paula da Paz.
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De acordo com Gunnar, as canções buscam inserir o ouvinte dentro de uma complexa relação universal, as idas e vindas dos relacionamentos amorosos e todo contexto e implicações que os rodeiam: anseios, conquistas, incertezas, despedidas, disputas, política, amor, paixão, sexo, cobrança, poder, dinheiro, questões existenciais e cotidianas das quais as pessoas lidam ou terão que lidar.

Suas composições, a maioria sambas, trazem pequenas crônicas, gênero  utilizado por grandes compositores brasileiros. É um resgate à música brasileira, num retrato atual sobre a vida do povo, desde os seus encantos às suas dificuldades, com humor e ternura.

Sarau do Binho

“Agora é a nossa vez” registra a apresentação do Sarau Binho. Binho ressalta que o palco Cultura Periférica é na verdade um eco da voz de todos os “guerreiros” que estão no dia a dia da periferia e fazem parte deste povo brasileiro, pois como diz o poeta “uma andorinha só não faz verão, mas pode acordar um bando todo".

O Sarau do Binho já se transformou em marco importante de expressão cultural para poetas e escritores dos movimentos de periferia, além de reunir também cantores, músicos e outros artistas populares que se revezam no palco do bar com o único propósito de mostrar sua arte para quem estiver interessado em ver e ouvir. As apresentações no Bar do Binho ocorrem nas segundas-feiras, a partir das 20h.

“Escolhemos as segundas porque nesse dia só vai quem realmente deseja compartilhar essa cultura. É um dia calmo, é o início da semana e é bom iniciar a semana com arte. A vida precisa disso”, explica Binho, dono do bar e idealizador do Sarau.

A expressão de suas obras é livre tanto para aqueles artistas já conhecidos, com livros publicados, como para os que estão pela primeira vez se aventurando a mostrar a própria produção. “Há espaço para tudo, de letras de rap a poemas de Augusto dos Anjos, de composições latinas a músicas em tupi-guarani”, acrescenta Binho.

 A platéia, entre cervejas e petiscos, é atenta. Num canto, uma pequena biblioteca convida os frequentadores a se aventurar por novas leituras. Livros espalhados pelas mesas do bar completam o incentivo.
Everton Araújo mora no Capão redondo e frequenta o Bar do Binho. Ele diz que gosta muito das apresentações e geralmente vai com os amigos. “Eu me sinto bem lá. É um lugar agradável, tranquilo. As apresentações são muito boas. Por isso, estou aqui hoje.”, diz o estudante de Letras.

A ideia de levar o sarau para a Virada foi muito boa. Binho diz que é levar cultura de uma periferia para as outras, já que o centro representa um misto de todas as periferias da cidade. “Aqui no centro, além de uma população carente que vemos por todos os lados, é o local de trabalho, de encontro da população que vive nas margens da cidade, seja na zona Sul, Leste, Oeste ou Norte, todos vêem aqui”, analisa.

Na apresentação da Santa Ifigênia, era possível perceber que a maioria das pessoas que assistiam os artistas já se conhecia. Eles se cumprimentavam e conversavam sobre qualquer coisa. Depois cada um ia para o seu lado. “O mundo é um labirinto onde a gente se encontra”, diz a letra de uma das músicas tocadas pelo Gunnar.

“O Sarau é um laboratório popular onde mais do que textos, saem também a consciência cidadã fortalecida. Trazer isso para a Virada Cultural é um resgate e uma valorização de manifestações de pessoas que fazem essa cidade”, finaliza Binho.

Maracatu Estrela Brilhante de Igarassu

Por Treicy Keller


A 7ª edição da Virada Cultural aconteceu nos dias 16 de abril a partir das 18 horas e se estendeu até as 18 horas do dia seguinte. Foram então, 24 horas ininterruptas de programação, que ofereceu ao público mais de mil atrações gratuitas em diversos locais da cidade de São Paulo.

A Virada Cultural acontece anualmente através de uma realização da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo em parceria com o SESC, com a Secretaria de Estado da Cultura e com importantes instituições culturais da cidade. Este ano, os organizadores do evento mantiveram uma característica muito marcante na Virada que é a diversidade cultural. Teatro, cinema, dança, shows (de rock, MPB, clássico, samba etc.) foram somente algumas das atrações que o público pode apreciar.

Um desses espetáculos trouxe para São Paulo, um pouco da cultura pernambucana, o maracatu.

Dentre as apresentações de maracatu na Virada Cultural, São Paulo recebeu o grupo Maracatu Nação Estrela Brilhante de Igarassu, que se apresentou em vários palcos da cidade. O Jornal Fapcom acompanhou os dois shows deles realizados no SESC Pompéia foi às 19H30 no sábado e às 16H no domingo.

O Maracatu Estrela Brilhante de Igarassu nasceu em 1824, e se trata de uma das agremiações mais antigas do Brasil -186 anos-, justamente por isso é considerado o maracatu de baque virado mais tradicional de Pernambuco. É liderado por Dona Olga, e por seu filho mais novo Gilmar Santana, que lutam para manter a tradição e o compromisso ancestral.

Para quem não conhece, maracatu é uma manifestação cultural da música, da dança e até do teatro do folclore pernambucano. É formada por uma música feita com instrumentos de percussão que acompanham um cortejo real. É uma mistura das culturas indígena, africana e europeia e teve seu surgimento em meados do século XVIII.

O maracatu mais tradicional é chamado de baque virado, pois este termo corresponde a um dos "toques" característicos do cortejo. Estes cortejos de maracatu são referências às antigas cortes africanas, que ao serem conquistados e vendidos como escravos trouxeram suas raízes e mantiveram seus títulos de nobreza, no Brasil.

A Estrela Brilhante de Igarassu teve uma apresentação típica de maracatu de baque virado. Os tocadores com seus instrumentos de percussão davam ritmo à apresentação da corte. Este tipo de maracatu sempre começa em ritmo mais lento, que depois acelera com as batidas dos instrumentos.

O cortejo mostrado no SESC era composto por um porta-estandarte abrindo as alas. Atrás seguia a dama de paço, que carregava uma boneca de cera e madeira, a chamada Calunga, que pode representar uma entidade, ou então uma rainha já falecida. Atrás seguiam as baianas, depois a corte e o rei a rainha dos maracatus.

O maracatu também era composto pelos batuqueiros (com suas roupas que representavam as cores da bandeira do Brasil) que usam diversos tipos de instrumentos de percussão, como os tambores, ganzás e os gonguês.

O público, no começo era tímido e só assistia, mas os batuques contagiantes transformaram o acanhamento em interação. As pessoas dançavam cada um do seu modo e até mesmo cantavam, já que as letras são refrões que se repetem. O casal Iasmim Santana, 24, e Bruno Nóbrega, 24, assistiram a apresentação do domingo, e afirmaram que não conheciam maracatu, e que estavam lá “só de passagem”, mas que gostaram muito do show devido a animação e a alegria que “tomou conta do lugar”.

Além das cores e dos brilhos das roupas dos integrantes, os batuques e a alegria, a mistura de raças também ajudou a “desenhar” o belo cenário que se transformou no SESC Pompéia. Gente branca, negra, oriental, pessoas novas e com mais idade, todos “faziam arte” juntos com os dançarinos e músicos, já que o distanciamento entre público e artista não existia.