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A eternidade dos Beatles

Da beatlemania, nos anos 60, aos dias atuais, a perenidade da música dos Beatles é garantida pelo prazer de ouvir e tocar os hits mais emblemáticos do século 20.

Por Alessandra Formiga

Foto: EMI London
The Beatles – a maior banda de rock de todos os tempos - não tiveram o que poderíamos chamar de uma longa carreira. Também não foram geniais guitarristas em suas primeiras composições. Mas, do ponto de vista cultural, com a revolução na música e nas letras, o legado que eles deixaram é inestimável. Quando cantaram I Want to Hold Your Hand para uma juventude sedenta por mudanças, em resposta, os jovens deram não apenas as mãos, mas o corpo e a alma para os rapazes de Liverpool. Como resultado, a música pop mundial, depois de canções como Yesterday, Hey Jude, Eleanor Rigby e tantas outras, nunca mais foi a mesma. Aliás, o legado que os Beatles deixaram excedeu à música maravilhosa que eles criaram. Os cabelos da rapaziada chegaram aos ombros e, depois, ficaram curtos novamente. As roupas passaram a ter mais cores. Em todas as fases dos Beatles, dos ternos moderninhos ao estilo colorido do psicodelismo, eles ditaram a moda e influenciaram o comportamento de várias gerações no mundo inteiro.

Foto: UPI
No entanto, a grande influência que os Beatles exerceram foi mesmo na música. Antes deles, os “conjuntos” que surgiram em garagens apenas reproduziam o som de grupos instrumentais americanos. Durante as apresentações, a performance das guitarras solos em hits como Blue Star, Caravan, Apache e outros imortalizados por grupos como The Ventures ou The Shadows era suficiente para impressionar a platéia. Até que os Beatles aparecerem gritando yeah! yeah! yeah!, cuja tradução no Brasil – iê, iê, iê – foi a melhor denominação do rock nacional no início da década de 60. Pronto! Estava lançada a beatlemania, outra expressão saída dos fornos culturais brasileiros, que dava nome ao fenômeno inglês no país.

A precisão vocal dos duetos criados por Lennon/McCartney encantou os “conjuntos”, que tinham apenas guitarra solo, base, baixo e bateria, ao ponto de incluírem mais um item: o microfone. A partir daí tudo seria diferente! O desafio agora não era fazer o melhor solo, mas cantar igual aos Beatles.

Desde então, as bandas de rock surgiram com novos estilos sem, contudo, negarem o impacto que o quarteto inglês causou nas suas carreiras.

A perenidade dos Beatles foi reafirmada recentemente por Paul McCartney que, aos 68 anos, numa turnê mundial, emocionou diferentes gerações e levou multidões aos estádios.

Bandas Cover dos Beatles – o legado que se mantém vivo

Fonte: Prefeitura de São Paulo
Os Beatles criaram muitas manias: cabelos compridos, roupas extravagantes, um jeito libertário de ser e mais: colocaram letras nas contracapas dos discos, inventaram o vídeo clipe, introduziram instrumentos exóticos e estranhos à música pop (como cítaras e violinos) e, acima de tudo, deixaram um tipo de música que, dizem, é eterna. Ao considerar o ano em que algumas canções foram criadas e o frisson que elas ainda despertam, fica difícil contestar essa afirmação. Isso chama a atenção para algo que surgiu junto com a beatlemania: o prazer de tocar as músicas dos Beatles, revivido pelas bandas cover. Dentre as muitas que surgiram, fizeram sucesso e desapareceram, uma resiste ao tempo com competência e talento: Beatles 4Ever. O quarteto, mais do que apenas interpretar as canções, conta a trajetória do grupo inglês durante as apresentações. Celso Anieri e Marcus Rampazzo, criadores dos Beatles 4Ever em 1976, passaram cerca de quatro anos formatando o espetáculo com pesquisas, ensaios, produção de cenários e figurinos para, finalmente, estrear no teatro Procópio Ferreira em São Paulo. Desde a estréia, em 1980, eles já se apresentaram em todos os estados brasileiros ultrapassando a marca de 6000 shows, incluindo a temporada de quase oito anos no Teatro Crowne Plaza.

A arte de reviver épocas

As apresentações começam com a fase da "beatlemania", quando os Beatles usavam elegantes ternos e um corte de cabelo revolucionário para a época. A história passa pela fase psicodélica onde fizeram álbuns que são referência musical até hoje como, por exemplo, Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, que completou 40 anos em 2007 e é considerado o melhor álbum da história do rock, segundo a revista Rolling Stones. A seguir, a fase final do quarteto, prestes a se separar, porém sem deixar de compor canções inesquecíveis. O espetáculo é marcado pela fidelidade com que os integrantes apresentam a história dos Beatles. Todas as roupas e adereços são réplicas fiéis dos figurinos usados pelos Beatles. Eles usam também as mesmas marcas de guitarras dos Fab Four. “Nós procuramos parecer o máximo possível com os Beatles, não apenas na aparência, como nos arranjos, e nos próprios instrumentos”, explica o guitarrista Marcus Rampazzo.

Fonte: Prefeitura de São paulo
Na Virada Cultural 2011, milhares de pessoas vibraram com o espetáculo da banda. Os Beatles 4Ever apresentaram o projeto chamado “The Beatles Complete Works” que consistia em tocar todos os álbuns dos Beatles, em ordem cronológica, durante as 24 horas do evento. “Nenhuma banda havia se apresentado durante tantas horas na Virada Cultural, com um palco exclusivo, e ficamos muito felizes porque o Boulevard São João estava lotado o tempo todo, com as pessoas cantando e torcendo por nós”, disse Fábio Colombini, um dos integrantes do grupo.


Fonte: Prefeitura de São Paulo
Os talentos de Ricardo Júnior (Paul McCartney), Marcus Rampazzo (George Harrison), Fabio Colombini (John Lennon) e Ricardo Felício (Ringo Starr) garantiram o sucesso de público. O show foi o mais visto na sétima edição do evento. “Eu adoro ouvir a música dos Beatles! Uma pena não ter vivido naquela época porque deve ter sido sensacional”, diz Ana Gabriela da Silva, 18 anos, estudante. “Eu curto heavy metal, mas acabei gostando dos Beatles por influência do meu pai, um beatlemaníaco”, declara Artur de Almeida Campos, 25 anos, auxiliar técnico de educação, provando mais uma vez a eternidade dos Fab Four.

Se o público gostou do que viu e ouviu na apresentação da Virada Cultural, os integrantes da banda também curtiram a saga musical. “Muitas pessoas ficaram lá com a gente durante 24 horas! Em muitos momentos também nos emocionamos com o público. Foi um show inesquecível”, finaliza Ricardo Júnior, o Paul McCartney.

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Tocadores de Trilhas na Virada Cultural

Por Claudia Chagas

Imagine um filme sem trilha sonora... você conseguiria assistir algo assim? Sem detectar a emoção em cada cena, a ausência daqueles pequenos ritmos que mostram que estamos vendo algo decisivo para enredo da produção. Faça o teste, pegue seu filme favorito, retire a trilha sonora e assista com apenas as falas dos personagens e sons externos; aposto que você passará a odiá-lo mais rápido do que decidiu que ele era seu favorito.
The Soundtrackers em foto oficial

Em 2011 a Virada Cultural apresentou “The Soundtrackers” em uma das variadas programações do SESC Vila Mariana, Zona Sul de São Paulo, o grupo tem em seu repertório músicas trilhas sonoras de filmes. “Sempre gostei de montar bandas temáticas e, como adoro cinema, achei que seria bacana criar um repertório em cima de trilhas de filmes”, conta Rodrigo Rodrigues, pai da ideia e um dos guitarristas do grupo. “Há tempos vinhas querendo voltar a tocar e fazer alguma atividade além da TV. Com os Soundtrackers matei dois coelhos com uma caixa d’água só”, brinca o apresentador da ESPN.

E o grupo fez sucesso, logo no dia da distribuição dos ingressos pessoas ficavam ansiosas e rezando para que os ingressos fossem suficientes para todos, pouco antes da abertura do anfiteatro o público foi encantado pelo show de um mágico que além de simpático era muito competente e colocou todos em extrema aflição a partir do momento em que desapareceu com uma nota de cinquenta reais de um colega, mas acalme-se ele fez a nota aparecer depois de muito tempo.

Finalmente as portas do anfiteatro foram abertas e todos entraram já animados, o palco nem tão grande quanto sonhávamos estava bem perto do alcance e um telão era toda a iluminação no ambiente, mas as pessoas não notaram nada disso; apenas a ansiedade as dominava. Daí as luzes se apagaram e o show começou.
Performance no SESC Vila Mariana

Dividindo o palco com vozes maravilhosas, instrumentos afinadíssimos e imagens de cada filme The Soundtrackers iniciou seu show cantando um dos hits do filme “Caça-fantasmas” seguido por “Footloose” ,“De volta para o futuro”, “Grease”, filmes de Elvis, Beatles. O figurino de cada um nos levava a um grande sucesso do cinema, que sempre nos evocava uma lembrança marcante.

“A vantagem é que o repertório não tem fim, vamos sempre estar de olho nas músicas que fazem sucesso na telona. Exemplo de uma mais recente é School of Rock, tema de Escola do Rock, do impagável Jack Black”, finaliza o jornalista. 

O grupo é formado por Rodrigo Rodrigues, Fábio Nogueira, Danilo Barbalaco, Eron Guarnieri, Fábio Effori, Luis Capano e Paula Marchesini, um conjunto para cinéfilo nenhum botar defeito.

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Cultura além da Virada

Por Dhaianny Vieira

Sé, um dos palcos para músicos anônimos
Sob os aplausos do público nos movimentados corredores do metrô de São Paulo é possível ouvir a doce música de um piano a tocar. Anônimos, profissionais, qualquer que seja o usuário, leigo ou não, na arte de tocar, também pode se aventurar entre as teclas de um piano e isso graças ao projeto Piano no Metrô, uma parceria do Projeto Encontros com a empresa Cinemagia, que disponibiliza quatro pianos nas linhas azul, verde, vermelha e lilás do metrô. O projeto é realizado com o intuito de aproximar o usuário do metrô com a arte.

Com a delicadeza de um bom artista e a precisão de um profissional o chofer de limusine João Carlos Monroe, aos 56 anos encanta os passageiros na estação Sé com sua boa música. Com curiosa história de vida, ele conta como foi resgatado pela arte; após a separação e um grande transtorno familiar João Carlos tentou o suicídio e encontrou escape para seus problemas na música.

Em seu velho piano que recebeu como pagamento de uma dívida, em meio a tanta dor e amarguras conseguiu tirar poucas notas da música de sua vida Como é grande o meu amor por você do cantor Roberto Carlos mesmo sem conhecimento algum do instrumento. “Posso ser pianista ao invés de suicida”, comenta.

A proximidade do usuário com a arte ajuda a aliviar o estresse do dia a dia dos paulistanos além de proporcionar novas descobertas artísticas. “Se anteriormente eu tivesse uma oportunidade como essa teria me atentado logo ao meu dom”, afirma o pianista amador.

O projeto continua divulgando e incentivando a música dentro de cada um, presente nas principais estações de metrô, de segunda a sexta. É só chegar, sentar ao piano e começar a tocar. Não perca essa oportunidade.

João Carlos, do escuro suicídio a luz da música

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O curioso encontro de Sepultura e a Orquestra Experimental

Orquestra Experimental de Repertório de São Paulo foi convidada a participar dessa grande festa da cultura brasileira, mas um encontro mais do que inusitado.

Por Dhandhara Campos

Como todos os anos a virada cultural vem com novas atrações. Esse ano dentre os inúmeros show simultâneos, houve um encontro histórico.

Abertura do tão esperado show
Sepultura com a Orquestra Experimental de são Paulo, no Palco Luz bem ao lado do Parque da Luz e da Pinacoteca do Estado. Esse show foi feito em prol do Pau Brasil, arvore que está em extinção, e o dinheiro arrecadado irá para o plantio dessas tão lindas árvores, que dão o nome para o nosso país. De primeira vista um show que poderia ser horrível, mas ele chamou até pessoas que não gostam do estilo, pela irreverência do acontecimento. Solos de guitarras permeados com sons leves dos
violinos.

A primeira música começou com a Orquestra, quando Sepultura entrou no palco o público foi à loucura, metaleiros pulavam e gritavam, juntaram os clássicos eruditos com músicas da própria banda. Para quem não conhece o estilo teria muito medo do evento.

Gabriel Campos de 20 anos foi ao evento e quando questionado sobre o que aquele show significava para ele, a resposta foi simples “Como amo metal, para mim foi uma mistura de gêneros fantástica, nunca imaginei assistir um show tão diferente na minha vida.”

Vista do público. À esquerda, a estação.
Mas quem está imaginando apenas um bando de metaleiros “batendo cabeça” estão enganados, tinham muitas pessoas que nem gostavam do estilo, estavam lá apenas por que queria conhecer a fusão de dois estilos completamente diferentes ou apenas

O ponto alto do show foi quando Andreas Kisser solou a nona sinfonia de Beethoven, A platéia foi à loucura. A mistura de gêneros foi tão bem feita, que todos vibravam a cada acorde que tocavam.

Como Bruna Amorim de 21 anos, que não gosta do estilo, mas prestigiou o evento “Eu vim com minha namorada para ver o show dos Misfits, mas enquanto ele não começa assisti esse do Sepultura e posso dizer que me surpreendi, eu não gosto muito do estilo, mas com certeza me arrepiei com os solos.”
Após alguns minutos de show, ninguém ficou cansado dos pulos e gritarias, tudo isso continuou até o final do dia evento, cantaram músicas antigas e novas todas com o acompanhamento sinfônico.

O que aconteceu com Bruna Amorim de ficar esperando outro show foi super normal naquela noite, onde milhares de pessoas passaram pelo Palco Luz apenas esperando o próximo show e ficaram maravilhados com o que viram.

Bem ali próximo no Parque da Luz, podíamos ver um ambiente completamente diferente do palco, músicas de coreto para dançar com o rostinho colado como antigamente.

Bem perto desse mesmo lugar pudemos ver até uma improvisação acontecendo, como sabemos a virada cultural é um evento poli cultural, onde temos o prazer de conviver com essa cultura linda do brasileiro.
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Cultura brasileira entre as quatro linhas

O mais importante esporte do Brasil tem sua história contada gratuitamente durante evento público.

Por Elis Faber

Divulgação

Chegou a hora de um dos maiores eventos públicos de São Paulo. A Virada Cultural aconteceu no último fim de semana, das 18h00 do dia 16 até as 18h00 do dia 17/04. Foram 24 horas de muitos shows e diversas apresentações. Neste ano, contou também com a participação do Museu do Futebol, que já faz parte do circuito do evento desde 2009. Segundo o coordenador do Núcleo de Eventos do Museu, Renato Baldin, “Este é o terceiro ano que o Museu faz parte da Virada Cultural e nós realmente achamos isso importante. Se a intenção do evento é trazer um pouco da cultura do país às pessoas, nada melhor do que ter um espaço que conte sobre o futebol. Gostem ou não, o povo tem que saber a importância desse esporte para a cultura e para história do Brasil.”

Construído nos avessos, ou seja, sob as arquibancadas do estádio do Pacaembu, e inaugurado em 29 de setembro de 2008, o Museu do Futebol possui 15 diferentes salas que proporcionam ao público uma vivencia e um aprendizado mais próximo do futebol. Entre homenagens e outras partes da história, temos salas como a Osmar Santos; a Pelé e Garrincha; a das Origens; a do Rádio; a dos Gols; a das Copas; a sala Exaltação, na qual é possível experimentar a vibração dos gritos e da comemoração da torcida no coração das arquibancadas; e há também o Auditório Armando Nogueira, com 180 lugares para sessões de cinema e palestras.


Divulgação
Não houve nenhuma exposição especial para o dia da Virada. As modificações foram apenas no horário de funcionamento, que foi estendido até as 22h00 com entrada gratuita a partir das 18h00. Mas no mesmo dia, sábado, a partir das 11h da manhã, aconteceu o 3º Encontro de Colecionadores de Camisas, com a intenção de reunir tanto colecionadores quanto curiosos que queiram conhecer mais sobre esta mania de alguns torcedores. “O encontro de colecionadores vem se consolidando a cada edição, com a participação não só dos paulistanos, mas também de torcedores de outras cidades e Estados. O evento é uma ótima oportunidade para aumentar a interação entre eles”, avalia Renato Baldin.

Divulgação
A tecnologia presente em algumas das salas somada as fotos e gravações que estão dispostas em todo o Museu, permitem aos visitantes um tour mágico pelos fatos mais importantes do futebol brasileiro e mundial. Recria de forma descontraída e atualizada, tanto com as peças do acervo quanto nas exposições móveis, a evolução de um esporte que se tornou parte essencial da história de um país. O Museu é totalmente acessível, mas a Virada Cultural permitiu uma interação maior, muito mais ampla, na qual todos os tipos de pessoas puderam aprender e se divertir ao mesmo tempo.

A beleza das peças e fotos expostas é gigante, ao ponto de fazer os visitantes sentir-se ainda menor, pela sua natureza de espectador, torcedor e fã. Bem como a grandeza da Virada, que ainda está longe de ser um evento perfeito, mas que proporciona muita diversão e conhecimento a toda à população. E nada melhor do que a união de coisas boas e produtivas para servir de incentivo, nessa busca por um mundo melhor.
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A Trilha das Artes

Por Danilo Moreira

Que tal acompanhá-los? (Foto: Danilo Moreira)

Eis mais uma Virada Cultural. O evento, já presente na rotina dos paulistanos há sete anos, tem recebido cada vez mais destaque na mídia. Mostram-se as principais atrações principalmente no Centro da cidade. A cada ano, recorde de público, sempre aos milhões. Mas agora, esqueça a virada no Centro. Vamos para 24 km ao sul da cidade. Lá, um grupo de pessoas de várias idades é conduzido por dois homens de preto. Um toca uma sanfona. O outro guia os olhos de todos para uma experiência sensorial intensa. Questionam-se: “Afinal, o que é arte? Como contemplar a arte? O que aquela obra quer dizer?” Todos “viajam”, dão vários palpites. A melodia parece criar uma barreira a tudo que acontece em volta. Diante daquela imensidão verde, eles parecem ser os únicos seres existentes.

Num mundo onde as pessoas têm cada vez menos tempo até mesmo para respirarem, parar por alguns minutos em frente a uma obra de arte e fazer um exercício de interpretação estética é uma atividade rara, e mesmo quando é feita, pode trazer alguns equívocos. É justamente para aprimorar essa experiência que o SESC Interlagos, localizado no extremo sul de São Paulo, apresentou nesta 7ª edição da Virada Cultural 2011, a Trilha das Artes. Trata-se de um passeio monitorado por várias obras espalhadas pela unidade.

Para quem não conhece, o Sesc Interlagos é um clube campestre de 500.000 m2, ao lado da represa Billings. Inaugurado em 1975, possui uma das maiores áreas verdes de todas as unidades da capital, tendo inclusive uma reserva da Mata Altântica.

A ideia

Elizabeth Brait é responsável pela programação de teatro, literatura, artes plásticas e visuais. Segundo ela, a ideia da trilha surgiu em 2007 pelas mãos de Andrea Fonseca, que é instrutora do Projeto Curumim (programa que atende crianças de 7 à 12 anos com atividades educativas) e especialista em museologia. “Ela considerou importante fazer uma ação de mediação sobre as obras de arte expostas junto ao público frequentador do SESC Interlagos”. Depois de vários ajustes, foi na Virada 2011 que o projeto finalmente foi posto em prática.

Ao som da sanfona

Era sábado, 16 de abril, 20 horas. No prédio da sede social, entre várias atrações acontecia simultaneamente, dois homens surgem. Sâmu carrega uma sanfona e Márcio exibe um sorriso no rosto, convidando a toda aquela gente para acompanhá-los. Logo formou-se um grupo de cerca de 25 pessoas. Começava ali a Trilha das Artes.

Pátio das Américas (Foto: Danilo Moreira)
“Hoje a gente vai fazer um percurso para abrir a nossa percepção”, anunciava Márcio. Segundo ele, o SESC possui uma coleção de 1200 preciosidades do chamado Acervo SESC de Arte Brasileira, iniciada há cerca de 60 anos atrás. Por ser grande a quantidade de obras no Interlagos (cerca de 300, segundo Brait), veríamos apenas cinco delas.

“Nu”, de Carlos Leão (1969), foi a primeira obra visitada. O quadro retrata uma mulher na sua intimidade, seminua, e mostra como durante muito tempo, desde a Grécia Antiga, o corpo feminino é um dos temas preferidos dos autores. Através de cada palavra pronunciada, os rapazes conduziam às pessoas ao processo de contemplação de cada detalhe, dando um tempo para que a imagem pudesse se comunicar com os olhos de todos. Minutos depois, várias pessoas já falavam o que haviam entendido dela. O momento é temperado com um poema de Vinícius de Moraes, chamado “Soneto da Mulher ao Sol”. Tudo para mostrar aos participantes como as diversas formas de arte podem dialogar entre si.

Dali, a Trilha seguiu para fora do prédio. Márcio distribuiu algumas lanternas para as crianças, adiantando que em certo momento do caminho, elas seriam essenciais. Na grama, passamos pelo “Pátio das Américas” (2005), obra em espiral feita em granito por Denise Millan e Ary Perez, e outra produção dos mesmos autores, cujo nome não foi dito, mas é um grande tronco amarrado a cordas de bronze. Em ambas, a interpretação dependia do contato físico.

Descemos algumas escadas. A sanfona de Sâmu ia na frente e abria caminho entre as pessoas que estavam ali. Quem via o nosso grupo (que muitas vezes parecia realmente estar em transe) se calava, e passava a nos observar. De certa forma, também nos tornamos uma obra de arte daquela Virada. Foi mostrado a nós uma pedra esculpida e de onde corria água. Aqui o desafio da interpretação da arte foi bem maior, por ser um local de muito barulho (era perto da arena, local dos shows que aconteceriam no dia). Márcio algumas vezes teve que gritar para o ouvissem. Não conseguimos nem mesmo identificar o autor da obra.

A partir daqui, a Trilha das Artes tomou uma direção mais profunda. Para ver a última obra, o grupo teve que andar bastante por um longo caminho de paralelepípedos. Aos poucos, o prédio da sede social e as outras atrações da Virada ficaram para trás. O silêncio da noite e os grilos passam a tomar conta do cenário, ainda sob o som da sanfona de Sâmu.

Arte também é engajamento ambiental. (Foto Danilo Moreira)
Chegamos enfim a um local escuro, ao lado da quadra de basquete do SESC. O som que cintilava em nossos ouvidos agora era uma flauta. Descemos sob a luz das lanternas que as crianças carregavam. Era também uma instalação. Troncos secos de árvores brotavam de pedras, e formavam um formato circular. Fomos convidados a entrar dentro dela. Mais uma vez, várias interpretações. Mas dessa vez, realmente tínhamos embarcado em um exercício de introspecção que era quase hipnótica. Nem as teias de aranha atrapalharam a essência do momento. Márcio explicou que ela fora colocada estrategicamente ali, pois, do lado, há a reserva da Mata Atlântica. E ela tinha sido construída por Siron Franco e as crianças do Projeto Curumim. Tratava-se de um alerta para a preservação do meio ambiente, além de mostrar que qualquer pessoa poderia produzir arte.

E por fim, após uma hora e dez minutos de total imersão no mundo das artes, os dois guias se despediram de todos, nos acompanhando de volta à sede social. Cada um que saiu dali teve a certeza de estar mais leve. E eram pessoas simples, boa parte moradoras da região, gente comum do nosso dia a dia. Mas, naquela noite, elas foram capazes de fazer o tempo parar, e passaram a servir exclusivamente à experiência estética proporcionada pelo passeio. Parecíamos ter acordado de um sonho gostoso. Com certeza, pelos sorrisos nos rostos de cada um, aquela trilha realmente seria inesquecível.

Segundo Brait, as cinco obras foram escolhidas com o propósito de informar a quem freqüenta o SESC que, além de toda a estrutura já conhecida (área verde, quadras poliesportivas, piscinas, e outras instalações de entretenimento), existe também atrações de arte importantes mas que não são vistas. Esse contato com as obras internas e externas criam uma sensibilidade no olhar e ampliação estética do indivíduo. “Vai da intimidade do primeiro contato do quadro de Carlos Leão à abertura para o céu de uma Mata Atlântica do Siron. Além disso, valorizam o patrimônio da unidade e o democratiza a todos”, conta a programadora.

Fim da Trilha: olhos renovados.  (Foto: Danilo Moreira)
Mas para quem perdeu a Trilha das Artes, pode ficar tranqüilo. Brait já adiantou que em virtude da boa repercursão, a unidade pretende promover novas edições da itinerância monitorada, até mesmo fora do circuito da Virada Cultural. É só torcer para que logo você também possa fazer parte desse momento tão especial, e ter a oportunidade de explorar o acervo de arte do SESC Interlagos.

Para mais informações, acesse www.sescsp.org.br. O endereço é na avenida Manuel Alves Soares, 1100, Parque Colonial, perto da estação Primavera-Interlagos da CPTM.
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Colorindo as ruas de São Paulo

Grafiteiros se reúnem durante a Virada Cultural e montam uma galeria de arte ao ar livre.

Por Natalia Guimarães


Domingo. O relógio já marcava mais de 16 horas, mas o sol não se incomodava em castigar com raios intensos de calor. Eles pouco se importavam. Óculos, bonés, chapéus, lenços e outros acessórios eram o suficiente para lidar com a temperatura bastante quente. No chão estavam espalhados caixas, pincéis, rolos, sprays e tintas de uma infinidade de cores. Os artistas dominam suas ferramentas e com propriedade fazem do muro da rua Viri uma ilustre galeria de arte.

Esta galeria foi pintada durante a Virada Cultural em São Paulo nos dias 16 e 17 de abril de 2011. Chamada de Pirada Cultural e patrocinada pelo SESC Santana, artistas se uniram para colorir a cidade através do grafite. Com temática psicodélica, grafiteiros como Binho Martins, Dninja, Feik, Minhau, Nick Alive, Thiago Gomes, Tikka e OZI deram vida ao muro, até então branco, com várias referências pop da década de 70.

O grafiteiro OZI é um dos precursores do grafite no Brasil e atua desde 1985. Para ele é sempre uma honra fazer parte dos que deixam a cidade mais viva através da arte. “Participar da Pirada Cultural é muito gratificante, principalmente quando se tem uma instituição e artistas que estão comprometidos com o que fazem. Aqui é tudo muito bem organizado”, afirma OZI. O muro é pintado em parceria e apesar de cada artista ter seu espaço, as ilustrações se completam. “É uma mistura de tudo! Minha referência dos anos 70 são os cubos mágicos, por isso escolhi pintá-los aqui.”

Os artistas que participaram da Pirada Cultural fazem parte do QAZ Street Art. Criado no início de 2008 o QAZ é um projeto que reúne diversos artistas e tem o objetivo de divulgar trabalhos dos jovens artistas plásticos que têm suas produções relacionadas com grafite e street art. Jordons Francisco, idealizador do projeto, afirmou que o SESC Santana se dedica especialmente ao grafite há algum tempo e que o convite aos artistas do QAZ é devido a competência de cada um. “Eles trabalham em harmonia. O que faz do trabalho uma painel singular”, conta Jordons.

Na cidade: pichação ou grafite? – O grafite é admirado como arte por alguns, mas visto como infração por outros. No dia 26 de maio de 2011 a presidenta Dilma Rousseff sancinou a lei diferencia grafite de pichação. Antes, ambos eram considerados infrações com pena de detenção de três meses a um ano. O novo texto apresenta que o grafite não é crime quando tem o objetivo de valorizar o patrimônio público ou privado mediante manifestação artística. Este trabalho deve ser consentido pelo proprietário no caso do patrimônio privado e deve ser autorizado pelo órgão competente, no caso de patrimônio público.

O grafite já é marca registrada da urbanidade da cidade de São Paulo e embora os grafiteiros não se importarem muito com a lei, a seguinte questão é levantada: quem irá julgar e fiscalizar o grafite como crime ou manifestação artística em uma cidade tão grande como a capital paulista? Essa é uma questão que não ficou clara no texto que apresenta a nova lei.

A lei também proíbe a comercialização de tinta spray para menores de 18 anos, e os maiores de idade só poderão comprar o produto mediante apresentação de documento de identidade. As embalagens dos sprays devem conter as seguintes mensagens: “Pichação é crime (Art. 65 da Lei nº 9.605/98) e Proibida a venda a menores de 18 anos.”

A educadora Olinta Flora concorda com a medida sobre a venda de sprays e afirma que os menores que grafitam devem estar ligados a alguma instituição, como é caso da Organização Eremim e do arte-educador Dingos, responsável pelos “pequenos” grafiteiros. “É imprescindível o acompanhamento integral dos menores durante as atividades, visto que estes ainda não respondem pelos seus atos”, explica Olinta.

O grafite é um gênero das artes visuais que tem conquistado o seu espaço não somente como arte de rua, mas também em importantes galerias e museus. Diante deste crescimento será possível que leis consigam determinar o que é ou não arte? A expressão artística fala por si só através de cores, imagens e sensações.